Não ao machismo

O tema do fim do machismo não pode ficar restrito às mulheres.

Claro que é uma luta principalmente das mulheres. Mas quando anunciamos que um livro, um post, uma entrevista, uma reportagem, seja lá o que for tem como tema a mulher, parece que os homens estão dispensados do assunto.

Muitos têm se interessado, como dá pra notar nos comentários do blog da mulher no Vi o mundo, por exemplo, em que aparecem diversas vozes masculinas para discutir o assunto. É muito importante essa pluralidade e inclusão do discurso de recusa ao machismo no debate social.

Restringir o tema de uma minoria a ela mesma é uma estratégia social para pôr de escanteio, para desqualificar as lutas dos diversos grupos. Pulverizadas e enfraquecidas, elas deixam de conseguir avanços na lei, nos costumes e na identidade brasileiras. Pensar que o racismo é um problema para quem sofre, é assunto dos negros, é uma forma que os brancos privilegiados encontram para não ter que se rever, não ter que transformar hábitos e preconceitos. O mesmo se dá com a mulher.

A mulher enfrenta o problema de uma profunda recusa de comunicação por parte dos homens. Digo profunda porque mesmo homens que refletem sobre o machismo e agem de forma igualitária em relação às mulheres podem recusar-se na intimidade a ouvir sua companheira, entender serenamente suas angústias e dialogar sobre seus sentimentos e insatisfações.

O homem também precisa lutar contra sua disposição a desejar as mulheres indiscriminadamente e achá-las misteriosas ou histéricas quando necessitam de diálogo.

Acho que há uma grande dificuldade para o homem em se pôr no lugar de uma mulher. Mas não vice versa.

A mulher, desde criança escuta histórias em que os heróis masculinos realizam-se como seres humanos. Ela sabe que isso lhe diz respeito. Identificar-se com um homem, colocar-se em seu lugar, compreendê-lo é fácil para a mulher. Ela é treinada desde cedo para isso. Mesmo assim, a identificação universal do ser humano é  um ganho para qualquer um e uma qualidade na mulher.

Mas o homem não. Quando a história é a história de uma menina ou mulher não é a história dele. E, se o menino sensível se identificar com a mulher e sentir essa compreensão universal do ser humano, então haverá sempre alguém perto para exercer o controle social necessário e mostrar-lhe que é perigoso para a sua masculinidade pôr-se no lugar da mulher.

E assim a literatura feminina e feminista continua sendo assunto exclusivo para mulheres e a sociedade não se engaja verdadeiramente nessa luta. Assim Clarice Lispector continua sendo uma de nossas melhores escritoras, e pode ser esquecida quando falarmos dos melhores escritores. Há sempre um padrão feminino para retirar a expressão de mulheres do debate social.

E o homem continua predominando.

Então, essa impossibilidade de identificação do homem com a mulher talvez seja uma das travas mais profundas para que o machismo deixe de vigorar. Não basta eu me declarar não machista. Será preciso rever minhas atitudes e convicções quanto aos papéis sociais que homens e mulheres exercem a minha volta, inclusive eu.

Sobre CCBregaMim

Classe média. Não sai da gente. Mas melhora, se a gente estiver disposta a abandonar nosso lugar na opressão.
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